Celsinho III
"Rei da batata doce (o batatão). Estavamos na pensão passando férias de julho. Muito frio. Parecia que estavámos no Alaska. Não sei quem teve a idéia de fazer uma fogueira no terreno da pensão, ao lado de onde hoje se faz o churrasco, e a infeliz idéia de procurar batata doce para assar na brasa da fogueira. Aí começariam os meus problemas: Zé Gomes e Fernando (com mais ou menos 14 / 15 anos) fizeram um concurso: Quem achasse a maior batata doce iria com os dois, a pé, até a casa do Zé Inês. No dia seguinte, é claro que eu (com mais ou menos 10 anos) achei a maior batata doce do mundo. Parecia uma jaca disfarçada de batata, para tristeza do Daniel e do Carlinhos. Estava todo bobo, estava me achando. Mal sabia o que estava me esperando. Saímos da pensão, Fernando, Zé Gomes e eu. Olhei para trás e vi, Daniel e Carlinhos com aquela cara de decepção, sentados ali embaixo da pensão. No meio do caminho (parecia que eu tinha corrido uma maratona inteira), os dois perguntaram se eu estava cansado e eu dissse que não. Eu não estava cansado. Estava morto. Minhas pernas (pequenas) estavam começando a ficar dormentes, mas eu não podia passar vergonha, não podia perder o foco. Enfim, chegamos à casa do Zé Inês. Pensei que tínhamos saido num dia de manhã e chegado no outro dia de manhã. Tirando a viagem, o dia foi ótimo . Bebemos caldo de cana , comemos melancia, manga . conversamos muito e depois voltamos para a pensão. Estava muito otimista e então pensei, vai passar uma charrete ou até um carro de boi e eu vou pedir carona até a praça. Do jeito que eu estava cansado pegaria carona para qualquer lugar. Não passou nem um boi perdido. Acho que naquele dia fizeram greve de transportes em Dores (estavam pedindo reajustes nas passagens de charretes e dos carros de boi). Enfim, chegamos na praça. Achei que era uma miragem . Felizmente não era. Realmente chegamos e fomos para pensão. Daniel e Carlinhos estavam me esperando, sentados ali embaixo da pensão, no mesmo lugar. Eles, rindo, perguntaram se eu estava cansado. Disse que não, eu não podia passar vergonha. Não podia perder o foco. Estava mesmo, estava precisando de uma ambulância com balão de oxigênio. Para a minha tristeza, ainda faltava um útimo obstáculo a ser superado. A escada da pensão (parecia a escadaria da igreja da Penha). Não sei se eu fui carregado. Não me lembro. Observação: eu não sabia que escada rolante fazia tanta falta. Até um mesmo um teleférico resolveria o meu problema. Conclusão: se alguém convidar vocês para fazer fogueira e depois comer batata doce, fuja, é fria. Que saudade da nossa infância. Um beijo a todos . Celso Henrique."